Em resposta ao deputado (municipal e nacional) socialista Rui Prudêncio, o nosso deputado João Semedo escreve: 
 
Os  cidadãos que necessitam de medicamentos sabem que o deputado Rui  Prudêncio  não tem razão no que escreveu neste jornal. O seu artigo tem demasiadas  meias verdades e imprecisões. Por exemplo, é verdade que cerca de  1500 medicamentos baixaram de preço. Mas, por que razão não diz Rui  Prudêncio que cerca de 6000 aumentaram de preço?
Quantas  vezes já aconteceu os leitores preferirem um genérico em vez  de um medicamento marca e não poderem adquiri-lo, porque o médico  assinalou na receita “não autorizo o fornecimento de um medicamento  genérico”? E quantas vezes acharam a conta da farmácia demasiado  cara, sabendo que poderiam ter gasto menos, se o médico tivesse  prescrito  um medicamento genérico, que é igual ao de marca, com a mesma  substância,  mas mais barato?
Esta  é a realidade que os nossos governantes – e também Rui Prudêncio,  querem ocultar.
E  se, como refere o deputado Rui Prudêncio, todas as propostas  apresentadas  pelo Bloco de Esquerda, na Assembleia da República, já estavam  contempladas  na nova legislação, porque votaram contra todas elas os deputados  do PS? Porque, na realidade, as medidas apresentadas pelo Bloco iriam  repor uma situação de maior justiça social e garantir o direito de  acesso aos medicamentos por parte de todos os cidadãos, em detrimento  dos interesses das farmácias e das grandes multinacionais farmacêuticas,   que este Governo e o Ministério da Saúde têm optado por privilegiar.  Ao votar contra o PS deitou fora uma poupança de 300 milhões de euros  que, em tempo de crise, tanta falta fazem às contas públicas.
Nos  últimos anos, temos assistido, na área do medicamento, a uma política  irracional, com medidas avulsas e desintegradas, que ignoram a realidade   do sector em Portugal, agravando, por um lado, a factura que os cidadãos   pagam pelos medicamentos que necessitam e pondo em risco, por outro  lado, a sustentabilidade do financiamento público de medicamentos. 
Com  o objectivo de contrariar esta tendência, o Bloco de Esquerda apresentou   recentemente, na Assembleia da República, seis Projectos de Lei.
Para  atingir uma quota significativa de medicamentos genéricos, semelhante  à de outros países europeus (50%-60%), o Bloco propôs: 1) a  obrigatoriedade da prescrição por substância activa (Denominação  Comum Internacional) e 2) a possibilidade de o utente optar, quando  assim o entenda, por um genérico, podendo assim pagar menos pelo mesmo  tratamento. Quem escolhe o que compra deve ser quem paga os  medicamentos,  ouvindo o conselho do farmacêutico e do médico. Não há outra forma  de permitir que quem tem pouco dinheiro possa comprar os medicamentos  de que precisa. 
Por  outro lado, para proteger os utentes das recentes alterações decretadas  pelo Governo, o Bloco propôs 3) o aumento dos escalões de  comparticipação,  para os níveis que vigoraram até 2006, isto é, 100%, 70%, 40% e 20%  (em vez dos actuais 95%, 69%, 37% e 15%) e o alargamento do regime  especial  de comparticipação aos desempregados, beneficiários do rendimento  social de inserção, e seus cônjuges e filhos menores, desde que sejam  dependentes. Actualmente este regime especial abrange apenas os  pensionistas  de rendimentos mais baixos.
Para  além disso, o Bloco propôs também que os beneficiários do regime  especial voltassem a poder usufruir da comparticipação a 100% para  todos os medicamentos genéricos comparticipados. Desde meados de  Junho, que esta gratuitidade se limita apenas aos 5 medicamentos  mais baratos em cada grupo, ao contrário do que já vinha acontecendo  há sensivelmente um ano. Aquilo que o deputado Rui Prudêncio, através  de um subtil jogo de palavras, sugere como um novo benefício traduz-se,  na realidade, por uma diminuição da ajuda do Estado aos mais  desfavorecidos.
A  nível hospitalar, o Bloco propôs, pela primeira vez, a fixação de  um regime de preços máximos para os medicamentos hospitalares, a fim  de evitar que continuemos a pagar por estes medicamentos muito mais  do que noutros países europeus. Há vários casos flagrantes de  medicamentos  com diferenças na ordem das várias dezenas a centenas de euros,  comparativamente  com Espanha ou França.
Por  último, o Bloco propôs também a dispensa gratuita pelos hospitais  de medicamentos para os primeiros dias de tratamento após um  internamento  ou uma cirurgia de ambulatório num hospital público. Poupando na margem  dos armazenistas e das farmácias e conseguindo um preço melhor, através  da negociação directa com as empresas farmacêuticas, o Estado gastaria  menos com os mesmos medicamentos. Por seu lado, os utentes veriam assim  assegurada a medicação para os primeiros dias de tratamento, normalmente   os mais dispendiosos, sem precisarem de irem a correr a uma farmácia,  assim que saem do hospital. Esta última proposta do Bloco foi a única  aprovada na generalidade, no passado dia 1 de Julho. E mesmo esta com  o voto contra do PS.
O  partido do Governo perdeu, assim, a oportunidade de viabilizar diversas  medidas que, não sendo uma panaceia para as dificuldades com que o  SNS actualmente se debate, seriam certamente um contributo importante  para concretizar os objectivos que presidiram à criação do SNS e  para a poupança de muitos milhões de euros tanto para o estado como  para os cidadãos.