FESTA - Que pensa o 'Bloco' sobre a nova lei de reorganização das freguesias?
Hugo
 Fortunato - O Bloco de Esquerda considera que esta lei da reorganização
 das freguesias não será benéfica para as populações, principalmente 
para as que vivem afastadas dos grandes centros urbanos, que ficarão 
mais isoladas e com maiores dificuldades de acesso aos serviços públicos
 nas áreas da saúde, educação, cultura e apoio social.
   
Do
 ponto de vista da racionalidade e da eficiência esta lei é infrutuosa, 
pois é sabido que o valor gasto com as freguesias é diminuto no 
Orçamento de Estado.
A
 premissa que a atual conjetura de crise em que se vive obriga a fazer 
cortes e a poupar, não pode e nem deve ser levada à letra, porque neste 
caso das freguesias quaisquer alterações à acontecer de uma forma não 
planeada e de consentimento generalizado, poderão ser danosas para as 
comunidades.
O
 facto de atualmente existirem 4260 freguesias em todo o território 
português, poderá parecer um número bastante elevado mas é importante 
juntar-se a esta equação, as especificidades das regiões e zonas rurais,
 questionando-se se é realmente necessário esta reorganização.
A
 execução desta lei só servirá os interesses dos nossos credores 
internacionais (Troika), eliminando a autonomia local e o conceito de 
apoio-proximidade até aqui desempenhado pelas freguesias nas mais 
diversas regiões do país, que mantêm através do seu trabalho diário as 
expressões culturais das suas populações.
FESTA - As junções a verificar em Torres Vedras fazem sentido?
Hugo
 Fortunato - Sabe-se que com a implementação desta reorganização, o 
concelho de Torres Vedras poderá perder quase metade das suas 
freguesias, mais especificamente as de Maceira, Campelos, Carmões, 
Freiria, Maceira, Monte Redondo, Matacães, Maxial, Carvoeira, Outeiro da
 Cabeça, Dois Portos, Runa, São Pedro e Santa Maria (estas últimas 
freguesias de cidade).
Os
 critérios apresentados no dito documento verde, se forem totalmente 
aplicados levará certamente algumas freguesias a juntarem-se a outras, 
como por exemplo Monte Redondo, Carmões e Outeiro da Cabeça, Dois 
Portos, Santa Maria, Matacães e Maceira.
A
 forma como este documento avalia a tipologia das freguesias, seja qual 
for o Concelho do país abrangido, será sempre prejudicado com esta 
reorganização territorial autárquica.
No
 entanto, se faz ou não sentido estas junções só as próprias populações 
afetadas o poderão responder da forma acertada através de referendos 
locais. São estas que beneficiam dos serviços das suas Juntas como 
também partilham a sua identidade histórico-cultural.
FESTA - Algo de bom, ou de menos bom, pode daí resultar?
Hugo
 Fortunato - Se partirmos do pressuposto que esta reorganização será 
aplicada nestes moldes, cabe então avaliar caso a caso, tentado perceber
 o que poderá melhorar e piorar, para assim antever transformações nos 
quotidianos dos habitantes.
Uma
 coisa é certa o conceito de freguesia, também terá de ser refletido, 
pois sem dúvida que a própria dinâmica das freguesias será alterada.
 
