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domingo, 12 de junho de 2011

Fernando Rosas apresentou livro em Torres Vedras


O livro “Os donos de Portugal”, escrito por vários dirigentes do Bloco de Esquerda, foi apresentado em Torres Vedras, na livraria Livrododia, no passado dia 20 de Maio.

Fernando Rosas, um dos autores (para além de Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório e Francisco Louçã), doutorado em História Económica e Social Contemporânea, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, director da revista História e deputado da Assembleia da República até 2010, explicou que o livro fala da história de uma família de famílias que tem dominado a economia portuguesa nos últimos cem anos, com excepção para o período entre 1974 e 1975.

Na apresentação do livro pode ler-se que o mesmo “faz a história política da acumulação de capital ao longo dos anos que vão de 1910 a 2010. Descobre-se a fortuna nascida da protecção: pelas pautas alfandegárias contra a concorrência, pela ditadura contra as classes populares, pela liberalização contra a democracia na economia. Esta burguesia é uma teia de relações próximas: os Champalimaud, Mello, Ulrich, entre outros, unem-se numa mesma família. Os principais interesses económicos conjugam-se na finança”.

Fernando Rosas defendeu que esta burguesia “estatista e autoritária” é uma criação do próprio Estado e “depende por isso da promiscuidade entre política e negócios”.
Trata-se de uma elite que dominou a economia portuguesa, desde a monarquia, passou por 16 anos de implantação da República e foi reforçada com o Estado Novo. “É uma oligarquia financeira incapaz de se modernizar com democracia, beneficiária do atraso, atraída pela especulação e pelas rendas do Estado e que se afasta da produção e da modernização. Ameaçada pelo 25 de Abril, esta oligarquia restabeleceu-se através de um gigantesco processo de concentração de capital organizado pelas privatizações”.

O autor definiu três condições para o reforço dessa situação durante o período salazarista: a pauta aduaneira (protecção dos produtos portugueses através da proibição de importar), isenção de taxas e baixos salários (permitidos devido à proibição de greves e de sindicatos). Mais tarde a crise internacional do petróleo no início dos anos 1970 levou a uma mudança nas estratégias de acumulação do capital: tendência para substituir a actividade produtiva pela actividade especulativa, ataque ao trabalho através de baixos salários (quanto maior é o desemprego mais baixo é o salário) e as privatizações de serviços públicos. A este propósito Fernando Rosas criticou severamente as privatizações já anunciadas em Portugal, afirmando que “a privatização da água é um crime contra a Humanidade” e no caso dos CTT “vão ser encerradas todas as estações dos cor-reios que não sejam rentáveis”. O historiador referiu-se ainda a vários episódios da História de Portugal, durante os quais foram esbanjados grandes quantidades de dinheiro. Na opinião de Fernando Rosas, após a entrada de Portugal na União Europeia houve outro período em que Portugal, devido à herança do Estado Novo mas sobretudo por más políticas, desperdiçou financiamentos europeus. “Foram anos perdidos. Onde está esse dinheiro todo que veio da Europa?”, questionou.



Fonte: Jornal Badaladas / Joaquim Ribeiro / 2011-06-09

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