sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma Greve Geral para resgatar a nossa (di)vida

Rui Matoso
Nas nossas vidas pessoais quando acordamos de um sonho regressamos normalmente à realidade. Nesta crise passa-se o mesmo, só que desta vez a realidade transformou-se em profundo pesadelo.
Depois de um idílico momento neoliberal (últimos 30 anos), e após o pseudo-sucesso-individualista-a-todo-o-custo ter sido a moral reinante do “cavaquistão”, onde a agricultura, as pescas e o sistema produtivo em geral foram reduzidos à insignificância, e onde o consumismo exagerado recrutou massas ávidas de exibirem o seu fétichismo pelas mercadorias do novo-mundo global, chegámos a uma encruzilhada que merecia mais reflexão a vários níveis.
No entanto, o ponto em que nos encontramos é difícil de analisar para a maioria dos cidadãos, mas nunca tão complexo que não possamos perceber que acabámos de assistir, impávidos e serenos, ao maior roubo da história depois das invasões francesas. Este gigantesco saque realizado pela máfia mundial (Goldman Sachs, Lehman Brothers, bancos de investimento, agências de notação, BPN e Dias Loureiro incluído) pretende perpetuar-se agora com a ajuda dos governos europeus.
Recentemente apareceu a injecção da “inevitável austeridade” pela boca dos suspeitos do costume (o bloco central dos interesses dos poderosos): Cavaco, Sócrates, Passos Coelho, Catroga e Teixeira dos Santos alinhados pelo diapasão orçamental dizem-nos: é assim a vida, quem manda são os mercados financeiros, não vale a pena reagir... como se a crise fosse imposta por um ser divino absoluto, quando na realidade foi criada por homens altamente gananciosos e corruptos, leia-se capitalistas selvagens.
Há anos atrás esses mesmos capitalistas aninhados no discurso neoliberal advogavam que o Estado devia estar o mais afastado possível dos negócios, e assim foi...e foi o que se viu, os mercados financeiros deixados à sua livre vontade levaram-nos a este ponto de miséria. Contudo, quando as maiores fortunas do planeta se viram à beira da penúria e sem liquidez, a quem foram pedir auxílio? Aos Estados, claro! Mas o Estado português somos nós, como diz a Constituição da República Portuguesa, um «Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa».
O governo português, tal como outros, apressou-se então a encher os buracos de milhões causados pelo casino da roleta capitalista, aumentando assim brutalmente o seu défice. Agora, os tais “mercados” acham que Portugal revela um défice excessivo e fez disparar os juros da dívida, dando origem às medidas do PEC III exposto no Orçamento de Estado para 2011, através do qual o governo PS (com a ajuda mirabolante do PSD) deixa incólume todo o sector financeiro. O mesmo sector financeiro que, apesar de ser responsável pela crise, está novamente deixado à solta pelos poderes públicos para poder tranquilamente regressar à sua actividade especulativa e à realização de lucros tão astronómicos quanto imorais.
Perante este cenário dantesco, face ao gritante incumprimento do programa eleitoral deste governo PS, o que podemos nós -o povo soberano da República – fazer? Esperar passivamente pelas próximas eleições? Aguardar calmamente pela crise política que o PSD tanto anseia? Mas será que vai haver crise política em breve e eleições legislativas antecipadas? Não nos parece, porque no fundo quem neste momento influencia realmente a vida política nacional são os banqueiros (veja-se a ronda que estes fizeram junto ao PS e PSD) e a União Europeia (Alemanha e França), e eles não querem eleições neste instante tão precioso para salvar o capitalismo neoliberal da sua própria crise interna, basta-lhes fazer algumas reformulações ministeriais para que haja mudança e tudo fique na mesma. Preferem que seja o tal povo (que os elege e luxuosamente alimenta) a sofrer ainda mais. Escolheram também aumentar a pobreza no Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social - ridículo !
Não existem alternativas dizem! Fazendo eco em toda a comunicação social, através dos comentadores de serviço. Essa é apenas mais uma das mentiras que circula depois pela mente das pessoas, é marketing puro. Basta vermos e lermos as medidas apresentadas pelo Bloco de Esquerda para acabar com as dúvidas e debater seriamente as alternativas àquilo que nos está a ser “inevitavelmente” vendido como solução única.
Assim, sabendo nós que existem alternativas e que essas só não são implementadas porque temos de defender (estamos inevitavelmente obrigados, dizem-nos) o jogo daqueles que continuam a fazer batota no casino financeiro, atacando os cidadãos socialmente mais frágeis, corroendo o serviço público e a própria democracia. Sabendo isto, das duas uma: ou continuamos a ser masoquistas inconscientes ou percebemos a existência actual do Fascismo Financeiro e reagimos. Esta é a escolha entre a morte lenta das pessoas e a agonia do planeta Terra (Crise Ambiental) ou o grito de luta pela vida. Nada menos que isso!
A Greve Geral marcada pela CGTP e UGT para o dia 24 de Novembro representa um dos principais momentos da nossa resposta a todos aqueles que persistem no caminho da violência económica e social sobre os cidadãos em geral e os trabalhadores em particular.
É que este, perceba-se isto, não é um período qualquer das nossas vidas. É o tempo em que começámos a entrar numa espiral de decadência acentuada de dia para dia.
E é contra isso, contra uma nova nova era de fascismo e miséria que temos de lutar já no próximo dia 24 de Novembro. Estando ao mesmo tempo preparados para o que aí vem a seguir!


 13 Novembro 2010

 Rui Matoso
 (Coordenador do Bloco de Esquerda de Torres Vedras)

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